BRB: realidade financeira contrasta com discurso oficial
06/12/2024
Em recente declaração, o presidente do BRB, Paulo Henrique Costa, apresentou um panorama otimista sobre os resultados financeiros do banco nos primeiros nove meses do ano. No entanto, uma análise detalhada dos documentos financeiros e do relatório do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) revela uma realidade que contrasta fortemente com o discurso oficial.
Resultados financeiros: uma visão divergente
Na mensagem divulgada via WhatsApp, Paulo Henrique destacou o lucro líquido recorrente de R$ 180 milhões nos primeiros nove meses de 2024, um aumento de 54,1% em relação ao mesmo período de 2023. Ele também mencionou o crescimento significativo em áreas como crédito imobiliário e rural, além de uma inadimplência de 1,67%, considerada baixa em comparação com a média do mercado, de 3,2%.
Contudo, o relatório do Dieese apresenta um cenário menos favorável. Primeiro, destaca o uso do crédito tributário pelo BRB, que totalizou R$ 55 milhões entre janeiro e setembro de 2024, ajudando o banco a alcançar um lucro contábil modesto de R$ 94 milhões. Sem o uso desse crédito, a instituição teria apresentado um lucro contábil de apenas R$ 39 milhões em nove meses.
A inadimplência, de fato, está abaixo da média do mercado, mas isso se deve à venda de parte da sua carteira E-H (de alto risco com maior probabilidade de inadimplência). No resultado do trimestre imediatamente anterior, a inadimplência estava em 3,42%, ou seja, acima da média do mercado. No terceiro trimestre, o BRB até apresentou um resultado positivo nas provisões para perdas esperadas associadas ao risco de crédito, mas essa melhoria se deve à venda da carteira mencionada. No primeiro semestre do ano, essas despesas haviam somado R$ 662 milhões, representando um aumento de 129% em doze meses.
Gastos com publicidade e patrocínios
Enquanto o presidente celebra os investimentos em tecnologia e inovação, o relatório do Dieese destaca um aumento expressivo nas despesas de publicidade e patrocínio. O BRB gastou R$ 85 milhões em patrocínios entre janeiro e setembro deste ano, equivalente a 91% do seu lucro contábil. Parte desses gastos foi destinada a patrocínios controversos, incluindo o investimento de milhões de reais na Fórmula 1, beneficiando figuras influentes de Brasília.
Conselheiros divergem sobre os resultados do banco
Em áudios atribuídos a conselheiros e ex-conselheiros, que circulam nas redes sociais, as opiniões são divergentes.
“Além de recompor parte das seções anteriores, o banco adquiriu carteiras com uma receita maior e com um risco bastante baixo. Então podemos ficar satisfeitos, sim, e orgulhosos, sim, dos números alcançados até agora, que num futuro próximo trarão resultados mais robustos. É o que nós merecemos, é o que o banco merece. Um grande abraço a todos”, diz um deles.
Já o outro afirma: “O fato é que a gente precisa olhar bem para esses números, não se empolgar muito com esses R$ 93 milhões no acumulado do trimestre. Porque isso está disfarçado de venda de carteira, o que não é muito bom. Além disso, ainda existe a questão do crédito tributário engrossando o caldo para esses R$ 93 milhões no acumulado. R$ 55 milhões disso vêm de créditos tributários. É preocupante que precisamos vender carteira para fazer resultado, quando o ideal seria gerar receita com a carteira de crédito. Como fica o nosso futuro? Aí ninguém sabe.”
Tamanha divergência de opiniões demonstra como os resultados e a própria gestão do banco são extremamente polêmicos, levantando preocupações sobre as decisões estratégicas e seus impactos nos resultados da instituição.
Descontentamento interno
Os funcionários do BRB, por sua vez, demonstram crescente insatisfação com a gestão atual. A discrepância entre o discurso oficial e a realidade financeira do banco é evidente para o corpo funcional, que não se deixa mais enganar por promessas vazias. A direção parece mais preocupada em manter as aparências do que em resolver problemas reais, como indicam os números apresentados.
Sindicato questiona rumos da gestão
O Sindicato tem lutado constantemente pela perenidade do BRB, procurando os órgãos de fiscalização e controle e apoio parlamentar para proteger o banco e seus funcionários dessas situações perigosas e preocupantes. Em visitas à Comissão de Valores Mobiliários e ao Banco Central, com o apoio da deputada federal Erika Kokay (PT-DF), o Sindicato tem apontado diversos problemas e estratégias de defesa do patrimônio público de Brasília nas assembleias de acionistas do BRB. Enquanto alguns atores e instituições permanecem omissos, ou se manifestam apenas nas redes sociais, o Sindicato mantém uma postura de luta constante pelos empregos e pela saúde financeira do banco.
O BRB enfrenta desafios significativos que não podem ser ignorados. O lucro modesto, a venda de carteira e os gastos excessivos com patrocínios são questões que exigem atenção urgente. A direção precisa enfrentar a realidade e trabalhar para resolver esses problemas, em vez de continuar promovendo uma imagem de sucesso que não condiz com a situação financeira atual.
Da Redação
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